sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

REFLEXO


Não falo de ti
porque não te vejo em si

me vejo sempre
passado, presente

retrato falado de ti.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

ALMA VAZIA


Ele lhe prometera um amor.
E ela,
perspicaz que era,
clamava por ele, ansiava,
chorava de dor.

"onde estará, meu Deus
o amor que me prometera?"

Sempre que se entregava,
cega,
sua alma era sugada
por ingrata solidão.

Toda vez que sorria
um balde de água fria
lhe inundava o coração.

Já não podia mais aguentar...

Ele lhe havia prometido,
e sua alma estava marcada
com a decisão de um dia voltar.

É pecado prometer e não cumprir, sabia?

Mais que pacado,
era quase uma heresia.

Ela havia de encontrar.

E, audaciosa que era,
ainda ousava ter esperança!

O que lhe fora prometido um dia
a voz vazia da alma
já não lhe deixaria olvidar.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

DANÇA DO MAR


As ondas me invadiam
os ouvidos d'alma,
e o corpo quase com elas
parecia dançar.

Este o meu mar.

Doce desvelo,
suave canção de ninar.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

SEU


Tudo o que tenho
é nada.

Nada que vai
passar.


Tudo que passa
é muito.


Tudo que fica
é mar.

Tudo que tenho
é tudo.

Mundo do
mundo meu.

Tudo que muda
é mudo.

Tudo que tenho
é seu.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

FERIDA MILENAR


Eis que se esquiva,
sem alívio.

Não sabe mais atirar!

E as feridas, redivivas,
são da alma
ranço milenar.

Em seus ouvidos,
a música dos tempos
continua a tocar.

E as batidas,
doridas,
voltam como loucas
a espreitar.

Já não se sente plena
pois que não se pode
identificar.

E só o que sabe
é que as feridas,
idas,
são de si
o que não pode evitar.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

SAUDADES


Echar de menos
es todo un lío...
es todo um vacío
que no se puede explicar!

Echar de menos
es hacer
el pensamiento volar.

Estar en otro sítio
sin salir del lugar.

Echar de menos
es amar
desde lejos
a quien lejos nunca está.

sábado, 9 de maio de 2009

RITUAL


Era um rito,
um ritual.

Toda conversa que consigo mesmo travava
trabalhava mesmo na alma
tudo que era farpa,
tudo que era mágoa,
o que não parecia normal.

Era mais,
transcendental.
Pois mesmo quando dormia,
quando, longe, se escondia,
era momento de magia.
E já não podia
se esquivar de todo o mal.

Era sobrenatural
o poder que sobre si mesmo exercia,
pois quase sem forças se vencia
numa luta sem igual.

terça-feira, 21 de abril de 2009

CAIXA DE PANDORA


O sentimento que me afligia
antes de eu ir embora,
é agora novo estorvo
em uma mesma caixa de pandora.

Ao que me parece
está ligado à terra,
afundado em ela...

...com raiz, espera,
e aparência de ficar.

A diferença é que agora
o posso identificar.

Por isso, a loucura por fugir,
e a paixão pela terra do porvir.

É tudo o que parece
insatisfação.
Adaga e falta de razão.

Daí as dores,
os tantos não-amores,
e a incessante busca por solução.


quarta-feira, 8 de abril de 2009

CONTRADITÓRIA


Antes de casta
é impura.
Antes dura
que evasão.

E na solidão
sabe ser doçura.
E na loucura
ainda encontra a direção.

Antes de vasta
é contida.
Antes ferida
que canhão.

E na sedução
sabe ser cobiça.
E na preguiça
ainda agita a imaginação.

Antes de buscar-se
já era.
Antes guerra
que mansidão.

E na conclusão
sabe ser sincera.
E na espera
ainda encontra inspiração.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

ASAS


Não sabia se queria voar.
Por isso, ia e vinha,
ganhava e perdia.
Sem casulo se continha
numa luta sem lugar.

Era livre e não sentia,
sorria embora desejasse chorar.
Mascarava o que um dia foi mágua,
engulia sempre que devia vomitar.

Era presa
e era presa.
A si mesma não sabia libertar?

Em seus olhos não cabia
o que não era beleza.
Em seus braços
já nada podia descansar.

Não criou asas.
Asas não podia inventar.
Sendo Ícaro, sonhava.
Mas, qual Dédalo,
só lhe restou lamentar.

Não pôde falar...

Em seu verbo não havia certeza.
Certas asas não podia inventar.

sexta-feira, 27 de março de 2009

FIM


Não é certo
não me olhar.
Nos olhos, lágrimas
que já não ousam brotar.

Esses olhos que fecharam
por um dia suspirar,
seguem cerrados
se estás presente,
agora cansados de evitar.

Fora doce e salutar
desde o dia em que te vi.
Todo fel não se podia notar,
pois que se escondia mesmo dentro de mim.

Te gosto ainda
e, por isso, todo esse importar.

E ainda machuca te ver.
Enfim,
tudo isso há de passar!

segunda-feira, 23 de março de 2009

UMAS VERDADES


Vim lhe dizer que minto!

A verdade não é boa companheira.
Ela também é beira de um abismo,
e me atira
em todas as seduções.

À parte, vim falar da vaidade.
Essa mesma que segura
o impulso da inspiração,
o curso da razão invade,
corrompe a verdade,
e faz de conta que é pura monta de perfeição.

A adaga que me fere
é vaidade pelo avesso,
verdade com gosto
de frustração.

Essa adaga que não mata,
sensata.
Também não ressuscita!

Apenas fere
e sinaliza mentiras,
que não têm sido proferidas
pela voz da solidão.


terça-feira, 17 de março de 2009

É MELHOR SER ALEGRE


Se é tristeza...
é também poesia.

Lágrimas, às vezes,
vêm pra aliviar.

A noite se parece com o dia.

Lampejo se confunde com luar.

Por fim,
é bom ser guia.

Mas bom mesmo seria
ter a alegria a me guiar.

sexta-feira, 6 de março de 2009

ESTRADA II


Amar a estrada
que leva pro mar.

Pelos caminhos da vida,
lida corrida,
simplesmente peregrinar.

Ser a imensidão que acolhe
e recolhe em todos os rios
o vazio a desaguar.

Mar que é vida a animar.
Rio que é, tão somente, desvio
e que é, ainda, descaminho
do que seria um não-caminhar.

Ser sozinho é não poder alcançar
a estrada que leva pro mar.
Ser sozinho é desviar.
O curso das águas mudar.

Mas estar sozinho é ouro.
Encontro marcado.
Tesouro que se chama
introspecção.
Estrada marcada
pela pegada-redenção.

O desaguar de águas
no mar sem fim...

Embocadura de ti em mim.

Saber nadar
é o primeiro passo
para, na estrada do mar,
jamais vir a se afogar.

E se é de mar
a estrada-coração.
A escola da vida.
é de estréia.
É pangéia
e não separação!
Foz de renovaçao.

Não é reta, nem clarão.
É, muitas vezes, disforme.
Quase sempre,
sugestão.

Não é de estrago
a estrada da Terra.
Não é de guerra.

Estrada

de terra.

E, ainda que pareça absurdo,
é mister
sobretudo,
saber suspirar.

Amar a estrada
que leva pro mar.

ESTRADA I


A estrada me consome
e some...

Já não me anda
quando é sua vez de mandar.

Me embriaga
de calor e fome.

Não manda socorro.
Morro só de pensar!

É de terra e sal,
e só em tempos de carnaval
pode a carne sobejar.

Segue sob as águas,
e, quando inunda,
já não afunda.

Pois que é tempo de mergulhar.
(era estrada, ou era mar?)

METALINGUAGEM


Doce terapia.
De mim fala
e a mim repudia.

A força que me escreve,
é a farsa que alivia.

E é assim
que me desvia
o curso da poesia.

terça-feira, 3 de março de 2009

GRAÇA


Arrancada de algum ventre
qual emboscada de uma estrada,
foi-se indo, ressentindo...
Farsa de estar-se em si e não ser.

Graça era o seu nome,
parca a sua razão.
Emoção com arroz come
para arrotar sonho e incompreensão.

É que o não entedimento
de "per si" rasga.
E em forma de tormento
torna a alma vaga.

E a saga, misteriosa e prosa,
tanto tédio lhe impõe.
Corroi a calma
qual ferrugem que se espalha
numa peça de metal.

Mas ela rude
rudimental.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

CORAÇÃO PARTIDO


Ela tem um coração
e ele está partido.

Ela sofre o que nao foi
e ele dissimula,
ferido.

Ela vive em demasia
e ele bate,
desiludido.

Ela vive...
viva!

E ele segue batendo,
ainda que ferido.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

PONTO DE VISTA


Era um barco,
estranhamente,
abandonado na beira do mar.
Alguém lhe havia
esquecido de ancorar.

Mas isso nao lhe poderia
vir a preocupar...

Com as ondas sempre ia
para sempre com elas
regressar.

Quao delicioso era
poder seguir o curso das águas,
deslizar ao bater da brisa
rumo ao ritmo
das águas do mar.

Quao deslumbrante parecia
nao saber-se barco,
nao saber-se brisa,
nao saber-se mar.

Mas haveria de chegar um dia
o momento de contestar...

Do lado de fora,
enquanto uns viam nele LIBERDADE,
outros tantos
somente a SOLIDAO
conseguiam enxergar.

Porque assim é a vista.
Ela é apenas reflexo
dos olhos daqueles
que se colocam a mirar.

Assim,
mesmo sendo pleno,
e tendo como morada
todo o infinito, a brisa e o mar...

mesmo sendo dono
de toda liberdade,
e da doce magia
de nao ter que ancorar...

já nao podia relaxar!

Lhe feriam os pensamentos.
Era chegado o momento
de parar e questionar.

Por que me esqueceram de ancorar?!

Que porto no mundo
me poderia amparar?!

Serei bem vindo,
esse barco abandonado
livre e libertado...
em outros mares para navegar?!

Porque assim é a vida...
ainda quando tudo temos
basta abrir os olhos
e já vemos
que muita coisa
nao se pode divisar.

(como seria bom ser um barco...
daqueles que nao se sabem,
e nao se precisam questionar).

sábado, 7 de fevereiro de 2009

ESCOLHER É ILUSAO


Se pensas que escolhes,
acolhes um sentimento
que é tormento da alma,
trauma e enganaçao.

Divinamente designado,
marcado e planejado,
escolhido, estruturado!
Armado e lutador!?

De seus planos,
nao es detentor!

Escolher é ilusao,
quase morte,
ficçao.

Viva por saber
as respostas.
E nas apostas
vislumbre a direçao.

Viva por ser livre.
De uma liberdade esguia,
fria.
Filme de açao,
nada mais que isso...
pura ficçao!

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

OS "DUROS" DE CORAÇÃO

(Não diz exatamente o que eu queria dizer, mas diz algo)

Me fascinam os seres
"duros" de coração.

Me fazem enxergar,
não agruras,
mas beleza
e introspecção.

O sentimentalismo me aferroa,
pois que é a dureza
que me permite maturar.

E o jogo de opostos
segue...

e me persegue.

Pois que é, certamente,
a própria dissonância
que me leva a progressar.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

DESABAFO


Há palavras que me ferem
a carne da alma.

Afiada a navalha...

e resvala do peito
a ferida que já nao usava corroer.

Há palavras que nao deveriam ser didas.

Aliás, deveriam ser restritas,
jamais mensuradas,
proíbidas...


riscadas com a mais grave tinta do esquecer.

Deveriam ser elas revistas!?
Ou passo eu em revista

o meu padecer?

Além de ferir,
matam!

E, logo, ressuscitam,
o que era ato cortado
nas cenas do meu viver.

Há palavras que levam ao suplicio.

É o atirar-se
em alto precipício,
para ver se há morte

antes do renascer...

sábado, 31 de janeiro de 2009

CORRIDA


Eu corria, sim!
Precisava esvaziar.
A mente relaxar.

Não corria atrás de nada.
Nada buscava.
Faltava-me ar...

Nada me poderia alcançar.

Também já não tinha porque fugir.
Era escrava,
mas não me torturava estar ali.

Corria...
como a magia que me trouxe.
Como se decolar fosse!
Como se alguém me quisesse apanhar.

E quem foi que disse
que mesmo estando parado
se pode voar?!

Basta os olhos fechar?!

Corria como louca.
Era preciso esvaziar a mente.
Relaxar.

Mais que precisa,
era a brisa
e a companhia do mar.

Corria...
e tudo que envolvia
era a vontade
de voltar correndo
para novamente "llenar".

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

SEM-TIDOS


Respire um ar
que nao é seu,
e nunca será.

Ouça uma voz
que nao te fala
mas que também nao calará.

Veja a cor
de um amor perdido
que nunca desbotará.

Cante para ninar
o rebento solstício,
que breve despertará.

Sinta as texturas
que a terra te traz
e que um dia levará.

Encerre os sentidos
contidos no tempo
(que é só pensamento),
mas na memória ficará.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

ÁVIDA


Me acho em mim
pois perdida não me posso guiar.

Encontro em si
os sinais que me vêem ajustar.

Viajo em sonhos
que nao são meus,
para meu caminho alcançar.

Sou eterna,
e também aprecio
a morte que me vem renovar.

Sou a sorte,
que à noite diverte
e de dia parece secar.

Me encontro...
toda vez que perco
o labirinto que me faz suspirar.

sábado, 10 de janeiro de 2009

ROTINA


Todos os dias
desço.

Atravesso a rua
que me trava,
rompo as amarras
do mau tempo,
e encontro o dia
em menos de um quarteirão.

Todos os dias
ando.
Sem rumo
e sem rumores..
escuto música,
visito flores.

E paro
cada segundo
que acelera o coração.

Não sei se desejo
ou se desisto,
pois todos os dias
pressinto...
que dias mais claros virão.

Todos os dias
passados
são remotos e remontados,
vividos e velados
em caixas guardadas
e escondidas no porão.

Todos esses dias...
nunca
serão simples
repetição.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

RAíZES


Se olho e vejo
raízes,
algo em mim encontra
sustentação.

Antiga tradição,
esfinge...
que decifra
e dispensa discrição.

Eis aí quem me acolhe,
e morre.
Sem que eu deixe de ser
extensão.

É a estirpe..
que de mim explode,
e me implode.

Fim da busca
Solução!

Encontro de tino,
destino fluindo..
Saga de uma geração.

Raízes são firmes
e revelam...
partes do ser
que parecem não ter
explicação.

sábado, 3 de janeiro de 2009

APARÊNCIA


Não é o mar
azul-saudade
nem verde-verdade.
Tranparência.

É apenas relexo
do firmamento em tela,
ou da alga mais bela.
Aparência.

Aliás,
também não sou eu
doce artista
nem, muito menos,
rude cientista.
Transparência?!

Apenas medito
porque, assim, sei
te reflito.
Espelho e penitência,
nada mais que isso!
Aparência...

A verdade
(alegre ou triste)
é apenas algo
que não existe.

E nós,
de verdade,
a ela buscamos...
sem fim!

Espantalhos.

Enfim...
RESISTÊNCIA.