quinta-feira, 22 de maio de 2014

ATALHOS

Duvido que duvido
se vejo setas amarelas
apontadas pra ti.

Não reconheço
caminhos amenos.
Atalhos não me servem
sucintos que são.

A negação não é o caminho
mas me atirar sozinho
frente a ermos lampejos
(e assim prevejo)
talvez não seja a solução.

E há sempre
um pouco de morte
quando um lado
é intenso
e o outro não.
 

segunda-feira, 5 de maio de 2014

FÔLEGO

Os mares se revoltam
e ondas devastadoras
são mais fortes que construções.

Todas as inundações
são de lágrimas,
água salgada de mim.

Antagonismo chinfrim.

Âncoras me guiam
até o fundo do mar.

E é aí que quero morar.

Submersa
posso sobreviver
ao caos.

Navegar não é preciso.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

SOBRE RAÍZES E BARCOS

Minhas raízes são laterais:
não me prendem a um lugar
mas ligam meu coração a outros.

São raízes elásticas
e me permitem caminhar.

Como polvo de mil braços,
mil abraços posso dar.

Meu lugar é o mar (de gente),
e não a terra a me tragar.

Sou como o barco a vela
deixo o vento (dos acontecimentos)
me guiar.

terça-feira, 11 de março de 2014

TRAVOSO FESTIM

Todo passo
é em falso,
e a queda
pode não ser o fim.

Todo resto
de travo
me torna agora
à boca,
rasgando o desgosto,
destemperando o festim.

Todo maço
estragado
do meu passado
em mim.

Todo gosto
teimoso,
todo gozo,
todo estopim.

Implodem as estruturas
sem comiseração.

Sem comando consciente,
me afundam em mim.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

DOIS PESOS

As coisas efêmeras
que não precisam ser
são mais plausíveis
e menos duráveis.

As efêmeras
que precisam ser
são impossíveis
mas adoráveis
(e eternas).

E as efêmeras
que são.
Apenas são,
sem alarde.

AQUI

Sua falta de lugar
é aqui.
E as portas se abrem
despretensiosas,
porque portas são rotas
e lugares não há.

Minha sobra de atenção
é seu lar.
E moinhos giram
ao som do vento,
sedentos de sentido
não ousam surtar.

Artefato colorido
de atalho e porto
ri da primavera
e se enterra no mar.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

NOVOS PASSOS

Racionalizando o irracionalizável,
encaro o desconhecido
pasma!

Parca é a lírica
que não é empírica.
E insanos são os passos
dados só com os pés.

PEÇA ISOLADA

No tempo de uma música,
me atiro e fujo,
pela janela,
como inseto sem direção.

Invento colmeias
com sabores e sons,
e arrisco dizer
que também te inventei.

Me encaixaria
em cada acorde,
como lego,
mas não ouso
desmontar.

Em tempo de folk,
canção de ninar.

Eu, peça isolada
de brinquedo antigo,
nas mãos da criança
me deixo jogar.