domingo, 29 de maio de 2011

PARTO ÀS AVESSAS


Quando tentou gritar
no afã de se livrar
da raiva que calou,
se espantou!

Um pedaço que saía
da boca ali aberta
(que de náusea lhe enchia)
era mágoa ainda presa.

E ao vê-la,
quase que nascendo,
teve certza:
era um parto às avessas.

E, mesmo sem analisar,
se vomitava ou engulia,
o pedaço resolveu puxar
(agora que à boca havia chagado
era impossível suportar).

Mas, como mágica sombria,
a mágoa que saía
tinha um nó que a ligava
a outra mágoa, de outro dia.

E o parto prosseguia...

Deste vômito mal acabado,
enorme corda se formava
e tanto mal lhe fazia
que quase se arrependia
de tê-lo provocado.

Era parto,
mas também era enfado.

Chegou a um ponto,
porém,
que a corda já lhe fazia bem.

Talvez por estar mais fora,
talvez por não estar tão sem.

Foi aí, então,
que a teve que cortar.

E um tanto ficou no chão,
e outro tanto voltou a entrar.

Era parto,
a apartar.

E, no fim,
se sentiu tão leve!

Subiu numa balança,
quase podia voar.

domingo, 22 de maio de 2011

DITO


Acabou o silêncio
causado por ela.

Acabou o vento
mas os cacos ficaram
espalhados pelo chão.

Acabou o sim,
e também o não.

Maldição.

Maldizer ou bem,
mas dizer.

E se não disser
vamos ver...

Reflexos do silêncio
vivos no caixão.

Enterrados,
e não.

Acabou o silêncio
mas não acabou a canção.

Ainda há banda
(pigarreia),
há orquestra.

E sobram palavras
no fim deste refrão.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

AS RAÍZES QUE QUERO CULTIVAR


Se me prenderão,
e como,
parece não importar.

E se detê-las
for impossível,
que todos os espaços
possam tomar.

Sem cálculos,
sem limite,
e (por que não?)
sem pesar.

Essas as raízes
que quero cultivar!

Me levarão ao fundo
do sentimento,
ainda que o tempo
não seja de enraizar.

Me manterão firme,
como fazem as boas raízes,
e sorverão da terra
(sem medo)
toda a alegria
de ali estar.