quarta-feira, 24 de julho de 2013

NUNCA MAIS

Se fez inundação nos olhos
como se tudo fosse lágrimas,
como se a despedida fosse embora
e o amanhã já não importasse.

Teria dito todas as palavras
há tanto reprimidas
e talvez nem precisasse
de muita explicação. 

Mas apenas deixou
que elas também fossem embora.

Outro não-acontecimento
para o reino do Nunca Mais. 

LUA

Lua cheia de Neruda
lotada de agonia
ilude todo um labirinto
de lobos enlouquecidos, a uivar.

Influencia ondas do corpo,
moda de bobos,
oferendas para Iemanjá.

Há de servir-se dos ardores lascivos
de outrora,
dos humores indevidos, das investidas vãs,
para escapar do peso
e, na gravidade, se equilibrar.

Lua cerrada
em seu ciclo entediante
gira no salão do espaço sideral.

Embala, por engano,
a noite dos amantes.

Não há baile mais vazio.
Sua dança não tem par.

domingo, 7 de julho de 2013

JOÃO E O PÉ DE FEIJÃO

Lá no alto
(de onde me mira)
talvez seja frio,
talvez haja dragões.

O ar mais rarefeito,
talvez.

De tão remoto
não sei
se é alegre
ao sorrir.

Mas não ouso
ir tão longe.
Não sei como subir.

Poderia até
convidá-lo pra descer
(também há vida
aqui embaixo).

Mas acontece que
nem sei
se respiramos
o mesmo ar!

Não me atrevo,
sequer,
a tentar responder.

Prefiro vê-lo sorrir,
distante.
Sem conflitos,
me deixo ficar.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

VIAGEM

Quando a noite
não pode ser
mais negra,
e o céu desaba
sobre a minha cabeça,
as estrelas são agulhas
querendo curar.

Quando os gatos
não podem ter
olhos tão grandes,
e me olham
do lado de fora.
Trepados no carro,
querendo pular.

É nessa hora
que a viagem
se faz amorfa
e esmaga o consciente.
Massa de modelar.

E a massa cinzenta
vira arco-íris,
o céu não é o limite,
a matéria
não ousa moldar.