sexta-feira, 28 de novembro de 2008

ITACIMIRIM


Uma sereia
cor de areia.
E um peixinho
correndo pro mar.

Dois filhos
de um mesmo marajá.

Jazia na praia
a linda sereia.
Da areia sacrifício,
era rabo de baleia
cabelo de uma rubro-sol...
e um não sorriso que ainda desnorteia!

Já o menorzinho
(quero dizer, o peixinho),
da areia continuação.
Era banquete inteiro
cabelo negro de carvão...
e um sorriso incisivo, ainda latente na intuição.

Dois dias a caminho do mar.
Dois filhos de um mesmo marajá.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

DESAGUAR


Era tempo de descrença
Sentença de um instante
e alguém, não muito longe,
clamava aos céus por proteção:

─ Não haverá alma
nesse mundo
que me interessar possa?!
Ah! Agüeiro de fossa!

─ Esboça um sorriso
e finge desaguar!

─ É tanta água em meu olhar...
por que tive que me engolir mar?!

─ Nada de muito absurdo
Tentes tu inundar o mundo.
Chega ao fundo de um segundo
e renova a sede de amar!

─ Ora, se fácil fosse
seria doce,
e não salgada,
a água a me escoar.

─ Já isso deves relevar!
Afinal, sendo água do mar,
Será sempre corrente

a te guiar!
(não te prendas ao paladar)

Acontece que,
a onda que te vinha inundar
era por demais fria...

Acredite!
Essa água que em ti existe
Insistirá até a pedra furar.

─ Será que ainda
nesse mundo habita
algo que em mim possa desaguar?!

É que não prescindo de um par
Desagüei na vida,
mas tudo que habita
pode em mim se afogar.

Alguém aí sabe nadar?!

Às mossas do caminho
Tento, em vão, me adaptar
Encontrarei um dia
no mundo o meu lugar.

Por certo... terei eu um lugar?!
Ou, sendo água,
a qualquer sitio me posso adaptar?!

Há perguntas que não se pode contestar
Deságuo, pois, em meu próprio mar.

Serei, por hora, oceano que agita!

Alguém aí sabe nadar?!

─ Nade sem medo de se afogar,
Se tuas “amar-duras” te afligem
É porque tens um ponto fraco,

que alguém pode acertar.

É neste lugar que a tua água brota
E onde certamente é raso e,
de tão mansas águas, que possas te banhar

Nade, mesmo que seja contra as águas
Até que o mar arredio dê-se por dominado.
Até o momento em que o céu nele possa se espelhar
E enfim verás que não há infinito mais belo
que o oceano quando o horizonte logra encontrar
(serás alma encharcada pela calma serena do mar).


Participação Especial: Rodrigo Mota

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

LUGAR SECRETO


É meu pedaço de mar
... amar ...
meu espaço secreto.

Quais são as ondas que me vêm encharcar
com seu farfalhar?!

A cidade, ao longe,
cinde.
E eu sou aquela que observa.

As luzes acendem a paisagem
ou a minha consciência cegam?!

Meu lugar secreto,
meu regaço, meu altar.
Mistério de águas.
Salgado despautério
de um auto-analisar.

Será o segredo
degredo da alma?!

Quem me pode espreitar
quando o mistério
é recuo de ondas do mar?!

Se me encontro aí,
finalmente,
EXISTO.

Deixo de ser
(seu vício!?)
apenas RESQUÍCIO
do seu analisar.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

BORBOLETA


Morrer é aprender
a mudar de lar:
do CASULO para o AR.
Liberdade sem saudade
passado acabado.

Morrer é romper

No firmamento voar.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

ELEMENTAR


Elementar
a incompatibilidade.
Sou de água
Es de ar.

Te vais com o vento,
me quero aconrar.
Se sopras sedento
me deixo agitar.

Es brisa ou tormento,
sou gosto de água do mar
(a lágrima saliva do seu paladar).

Essencial
a oposiçao complementar.

Sou o não-você
que nada mais pode agregar.

Elementar.

Se a minha água
já nao assume o formato
do seu paladar,
que seu vento me sopre longe!

Irei navegar correntes mais minhas
para em outros portos poder ancorar.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

CISMA DE UM POETA


Sei que há
em algum lugar da imensidão,
Uma alma que se esconde
como criança.
Pois é saudosa sorte
em estado de lembrança...
... é pequena gota de desilusão.

Oh! Alma tão gêmea da minha!
Sê a sorte que caminha,
sê o vento a me guiar!

E, nesse caminho,
mesmo sôfrego e sozinho,
traz consigo a brisa sorte.
Traz a forte sina a me alegrar.

É que a cisma de um poeta
faz-se tanto mais concreta,
que mesmo as medalhas de um atleta
ou os cantos de um sabiá,
são ínfimas gotas ante o mar.

São somente poesia errante,
que em simples suspiros
hão de se transformar.

Mas, a dantes dita
cisma de um coração,
é pedra presa eternamente ao chão,
certeza a nunca se duvidar!

É que a chama ardente do vulcão
(que arrefece nunca)
há de, um dia, se eternizar.

Julho/2006

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

JOGO DE EGOS


Somos jogo de egos.
Meus egos, entre eles
Seus elos, tao ausentes.

Nosso vício de jogar,
e perder, e ganhar.

Perdemos tempo
em ventos narcisos.
Ganhamos tantos
momentos lascivos.

Somos tontos!
Jogo de egos.

Todo pranto
de elo perdido.
Todo encanto
No entanto, conciso.

Somos profanos,
Jogo de elos!
Inexistentes, precisos,
austeros, nocivos..

Jogo de telos,
indiscretos e furtivos.

Somos ariscos.

Jogo de egos?!
Mais que isso,
Jogo de riscos!

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

ESTILHAÇOS DE REVELAÇAO


Sempre que falo
calo a voz
que grita dentro de mim.
Deixo de ser eu
E passo a ser
retrato espelhado de ti.

Sou figura ao contrário
(de um contrário que nao é avesso)
Basta olhar em teus olhos
e já me reconheço.

Enfim, das palavras me esqueço...
e, assim, sou novamente
parte amputada de mim.

Por isso silencio.

Os espelhos esvazio.
Das palavras faladas,
finalmente,
me desvio...

Calo e só aí, entao,
falo alto ao coraçao.

Quebro os espelhos, e vejo:
cacos de mim espalhados pelo chao.

Sou agora
estilhaços de incerteza
pedaços exatos de revelaçao.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

OLHOS: POR QUE DIZES TANTO, MESMO AO SE CALAR?


(Porque "recordar é viver"! :P Fev/2001)

É tao penetrante o brilho do seu olhar
que, mesmo sem precisar falar,
você me cobre com palavras lindas.
Inexistentes diante de um vocabulário comum,
algo que recita, canta, declara, mata.
Morre aos poucos cada vez que desvia,
e se torna tao claro sempre que se fixa nos meus.
Um olhar penetrante, a ponto de machucar,
de ferir o coraçao,
e tornar cada vez mais muda a voz da razao.
Um olhar que se pronucia
cada vez que se cala.
E me cala cada vez que vive em mim.
Algo forte, a ponto de enfraquecer
E real, a ponto de emocionar.
E, apesar de matar a cada desviar,
vive constantemente preso em meu pensar.
Ele mata e morre.
Prende desejos, e solta palavras.
E, apesar da complexidade para explicar
e da quantidade de coisas que passa ao me tocar,
hesito em dizer,
mas é apenas um olhar!




sábado, 1 de novembro de 2008

CONVERSA


(SOBRE UM TEMPO QUE NAO SE CHAMA PASSADO)

Falávamos de um sentimento
e era algo parecido com a saudade.
Só que nao logrou existir no tempo,
Era, enfim, apenas o sustento

de uma (nao) realidade.

Percebi que algo teria que encontrar
(além de mim mesma).
Havia forte suspense no ar..
e uma certeza,
que vinha apenas para espionar.

Cada palavra parecia invadir minh`alma.
Pareciam verdades de um destino já há muito anunciado,
Saudade de um tempo que nao se chama passado.

Era tudo mais que ternura
Sorte sempre desejada.
Mas era, antes disso, soltura
de uma alma que se sentia, por fim, amparada.