sábado, 15 de dezembro de 2012

TARDO

A tarde é triste,
tem o tédio como tema.

Não há trema,
teorema ou tralalá.

À tarde tardo,
ardo.
Tartamudeio,
creio.
Tomo o tento
que tentar.

Tardo a me traçar
nesta tarde sem tinos.

Titubeio, anseio.

Atarefada, puxo o freio!
Tenho sempre que teimar.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

PORTAS ABERTAS


Da sala vazia restaram
portas abertas
com vista pro bar,
visitas nascidas pra morar.

Hermetismos sombrios
suspiros artísticos
fantasmas a sussurrar.

A solidão não sabia
ser menos calculista.

Artista de circo,
malabarista torta.
Chama criando sombras.
Nômade
com jeito de ficar.

E as portas abertas
- incertas ou não -
eram fonte de júbilo,
ângulo reto.
Mas também de agonia.

Palhaço sem plateia,
riso sem par.
(Ainda assim,
melhor rir do que chorar).

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

PRELÚDIO DO FIM

A febre é prelúdio
do fim.

E o samba é triste -
verbo no futuro.
Os fogos de artifício
não servirão.

Lágrimas se atrasam,
em riste.
Ainda não é tempo
de cair.

E a mortalha
já não é colorida.
Liberdade
não virou prisão.

Luas sobre a cidade
cegam.
A luta é incansável!
Tango em São João.

E a tela agora
se parte em mil
formas de distância.

Tristeza é prelúdio
de separação.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

SEMENTES DO OLVIDO

Foram lançadas
as sementes do olvido
e, na Terra do Nunca,
começam a germinar.

Pequeno consolo
da alma.

Esperança
de pomar.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

MARES DO SERTÃO


Não quero sangrar aqui,
onde a água é tão escassa.

Não haverá desperdício de lágrimas
nem flores para Iemanjá.

Pois se até no sertão
há terra fértil
(uvas a abundar)!
Por que é que no meu coração
não haverá?

Plantarei agora, sementes.
Flores lançarei ao rio.
Em fevereiro, quem sabe,
serão oferendas no mar.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

ANTES QUE SEJA TARDE


A leveza chegou
sorrindo
deu um beijo
no destino
batucou um samba
e se mandou.

Outro dia veio
sem razão
tirou do triângulo 
um baião,
de repente, 
em repente,
dois versos recitou. 

Jurou que ia
com o vento,
navegaria os sete mares,
seria livre
ao som dos ares
cantaria a música 
dos sabiás. 

Levaria apenas

quem fosse parte.

Borboleta de cor

escarlate.
Pena que só dura
o tempo de voar.

terça-feira, 15 de maio de 2012

VERTIGEM

Se fosse um poço
fundo,
e ainda que não tivesse fim,
me atiraria mesmo assim.

Pois há vertigem
em cada mirada
e o medo revela
a vontade de saltar.

Se fosse noite
alta,
e ainda que me encerrasse em mim,
não desejaria que tivesse fim.

Pois as luzes
me ascendem
a uma outra morada
e a escuridão mais parece
contraste a revelar.

Se fosse
e deixasse de ser.

E se os "ses"
me permitissem
realmente viver.

Aí, enfim,
já não sei como seria.

domingo, 22 de abril de 2012

SAPATOS NOVOS




Me molestaram,
por novos.

Me serviram,
por sorte.

Se adaptaram
e passaram a pertencer.

Assim todas
as coisas queridas
que só são infinitas
porque, na verdade,
não podem ser.


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

PARTIDA


Precisava aprender a ficar
mas ficar não a prendia.

Era partida sem termo,
caminho sem ermo,
revolução a (re) voltar.

Assustava-lhe mais o ancorar
que o ir em frente.

E era crente, sem tino.
Dona do seu destino,
Coragem e medo
em comunhão.

Faltava pé no chão,
sobrava chão embaixo dos pés,
mas já não procurava atalhos.
Nem desvios,
nem revés.