quarta-feira, 26 de novembro de 2008

DESAGUAR


Era tempo de descrença
Sentença de um instante
e alguém, não muito longe,
clamava aos céus por proteção:

─ Não haverá alma
nesse mundo
que me interessar possa?!
Ah! Agüeiro de fossa!

─ Esboça um sorriso
e finge desaguar!

─ É tanta água em meu olhar...
por que tive que me engolir mar?!

─ Nada de muito absurdo
Tentes tu inundar o mundo.
Chega ao fundo de um segundo
e renova a sede de amar!

─ Ora, se fácil fosse
seria doce,
e não salgada,
a água a me escoar.

─ Já isso deves relevar!
Afinal, sendo água do mar,
Será sempre corrente

a te guiar!
(não te prendas ao paladar)

Acontece que,
a onda que te vinha inundar
era por demais fria...

Acredite!
Essa água que em ti existe
Insistirá até a pedra furar.

─ Será que ainda
nesse mundo habita
algo que em mim possa desaguar?!

É que não prescindo de um par
Desagüei na vida,
mas tudo que habita
pode em mim se afogar.

Alguém aí sabe nadar?!

Às mossas do caminho
Tento, em vão, me adaptar
Encontrarei um dia
no mundo o meu lugar.

Por certo... terei eu um lugar?!
Ou, sendo água,
a qualquer sitio me posso adaptar?!

Há perguntas que não se pode contestar
Deságuo, pois, em meu próprio mar.

Serei, por hora, oceano que agita!

Alguém aí sabe nadar?!

─ Nade sem medo de se afogar,
Se tuas “amar-duras” te afligem
É porque tens um ponto fraco,

que alguém pode acertar.

É neste lugar que a tua água brota
E onde certamente é raso e,
de tão mansas águas, que possas te banhar

Nade, mesmo que seja contra as águas
Até que o mar arredio dê-se por dominado.
Até o momento em que o céu nele possa se espelhar
E enfim verás que não há infinito mais belo
que o oceano quando o horizonte logra encontrar
(serás alma encharcada pela calma serena do mar).


Participação Especial: Rodrigo Mota

4 comentários:

Chan. disse...

Esse é digno de encenação, sensacional!

Não sei nadar, mas tenho algo de água também... Água misturada com ar... Mais do que nunca, tenho o dom de me adaptar...

Ricardo Dib disse...

Sei nadar, mas mesmo assim tenho receio de encarar esse mar.

Pedro Camilo disse...

"Sabe lá o que é morrer de sede em frente ao mar?" - essa é de Djavan...

.:Danilo Cruz disse...

Muito bom!

Água morro abaixo, fogo morro acima: de qualquer forma morro...
mas nesse dilema haverá a brisa de transformar esse mar em salitre, morrer o mar, corroer, enferrujar,
Sublimatio, evaporar no pensamento do ar, transformar, oxidar,
óxido de diidrogênio congelar, ebulir,
mar de albumina, água e sal,
mar do inconsciente,
mar do útero, amniótico,
em ti uma ilha há de surgir,
um continente estrugir,
da arqué de Thales renascer,
arquipélagos, constelações, estrelas do mar,
Gênese 1:6 a 10 repetirá,
far-se-á carne o Verbo em ti,
e não mais há de haver solidão...

"Tolo é aquele que naufragou seus navios duas vezes e continua culpando o mar."
Publius Syrus